Treino seguro para quem tem artrose no joelho

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Quando recebemos um aluno com artrose no joelho, é comum que ele chegue cheio de dúvidas, inseguranças e até receios sobre continuar se movimentando. Muitos já ouviram que não deveriam fazer exercício, enquanto outros têm medo de sentir dor ou piorar o quadro. 

É nesse ponto que o nosso papel como profissionais de educação física se torna essencial: mostrar que, sim, o movimento é parte do tratamento e que, com as estratégias certas, é possível treinar com segurança e qualidade.

Quero compartilhar com você algumas orientações práticas para que seus treinos com alunos que têm artrose no joelho sejam eficazes, adaptados e, principalmente, seguros.

Entendendo a artrose no joelho

A osteoartrite de joelhos é uma condição complexa, caracterizada pelo desgaste progressivo da cartilagem articular. Ela vai além de um simples “desgaste”, envolvendo também inflamação sinovial, danos à cartilagem, formação de osteófitos e afetando ligamentos, tendões, tecidos periarticulares e músculos. É uma condição que afeta os três compartimentos do joelho e pode evoluir lentamente ao longo de 10 a 15 anos, prejudicando a propriocepção, estabilidade articular, força dos membros inferiores e a capacidade de realizar atividades diárias.

É uma condição bastante prevalente, especialmente em pessoas a partir dos 50 anos, mas também pode surgir mais cedo em decorrência de fatores como histórico de lesões, cirurgias, sobrepeso, prática de atividades de alto impacto sem orientação adequada ou mesmo predisposição genética.

Do ponto de vista clínico, os sintomas mais comuns que encontramos são:

  • Dor: geralmente piora com esforço físico e melhora com repouso.
  • Rigidez matinal: o aluno pode relatar dificuldade de movimentar o joelho logo ao acordar.
  • Inchaço leve: em alguns casos há presença de edema, fruto do processo inflamatório.
  • Estalos ou crepitações: sensação de “rangido” durante o movimento.
  • Perda de mobilidade: o aluno passa a ter mais dificuldade em realizar atividades simples, como agachar, subir escadas ou caminhar por longos períodos.

É importante compreender que a artrose não é apenas um “problema do joelho”. Ela afeta diretamente a qualidade de vida do aluno, sua autonomia, confiança e até o humor. Muitas vezes, por medo da dor ou por acreditar que não há solução, a pessoa reduz suas atividades diárias, o que acaba gerando um ciclo vicioso: menos movimento leva à perda de força e mobilidade, o que, por sua vez, aumenta ainda mais as limitações.

Avalie antes o aluno com artrose no joelho antes de começar

Antes de prescrever qualquer exercício, costumo reforçar a importância de uma boa avaliação funcional. Não se trata apenas de observar a dor, mas seguir alguns passos:

Primeiro passo

  • Anamnese detalhada
  • Questionários de dor e função física

Segundo passo

Avaliação física habitual: Direcione a avaliação para os objetivos do aluno, incluindo:

  • Qualidade e amplitude dos movimentos.
  • Força (especialmente de quadríceps, isquiotibiais, glúteos e panturrilhas).
  • Composição corporal.
  • Aptidão cardiorrespiratória.
  • Risco cardiovascular (com encaminhamento médico se necessário).

Essas informações vão guiar todas as escolhas do treino.

A “Tríade do movimento”: Exercício Resistido, Aeróbio e Neuromotor

O exercício físico é amplamente recomendado como primeira linha no tratamento da osteoartrite de joelhos. Minha experiência e as evidências científicas reforçam a eficácia de uma abordagem combinada, focando em três pilares principais:

Exercícios Resistidos

Amplamente recomendados pelas diretrizes internacionais, são a base para ganhos de força, redução da dor e melhora da função física. São considerados seguros para a maioria dos pacientes com osteoartrite de joelhos.O aumento da força do quadríceps é uma recomendação primordial, pois sua fraqueza está associada à má distribuição de carga na articulação do joelho e à progressão da doença.

Exercícios Aeróbios

Embora os exercícios resistidos apresentem maiores benefícios quando isolados, a abordagem combinada é a mais vantajosa. O exercício aeróbio é essencial para combater o sedentarismo, melhorar a aptidão cardiorrespiratória e, consequentemente, reduzir a dor e melhorar aspectos psicológicos.

Exercícios Neuromotores

Considerando que a osteoartrite de joelhos é mais prevalente em pessoas acima dos 65 anos, a inclusão de exercícios neuromotores é fundamental para a manutenção da autonomia na vida diária.

Cuidados indispensáveis para quem tem artrose no joelho

Mesmo quando desenhamos um programa de exercícios bem estruturado, existem alguns cuidados que considero fundamentais para garantir a segurança e a efetividade do treino em alunos com artrose do joelho.

É bem importante que o aluno entenda a diferença entre um leve desconforto (nota 0-3 na escala de dor 0-10, que pode ser normal e diminuir com a atividade) e uma dor moderada a forte (nota 4-6 ou mais, que exige redução de intensidade ou interrupção do exercício). O monitoramento da PSE e da dor deve ser feito a cada mudança na prescrição e sempre que necessário.Por isso, devemos orientar o aluno a distinguir desconforto de dor intensa e criar um espaço de confiança para que ele se sinta à vontade em relatar o que está sentindo.

A progressão gradual de carga é outro cuidado indispensável. Muitas vezes, por ansiedade de querer melhorar rápido, o aluno ou até mesmo o profissional acaba aumentando a intensidade antes da hora. Altere apenas uma variável da prescrição por vez (volume, intensidade, frequência) e não aumente o volume absoluto em mais de 4% por semana. O “básico bem feito” proporciona ótimos resultados. 

Também gosto de reforçar a importância de monitorar a resposta do aluno após as sessões. Perguntar como ele se sente no dia seguinte, se houve aumento da dor ou inchaço, ajuda muito a ajustar o treino de forma personalizada. Esse acompanhamento contínuo mostra cuidado, fortalece o vínculo de confiança e aumenta a adesão ao programa.

Eu acredito que a colaboração com médicos e fisioterapeutas é um diferencial na nossa atuação. Faça a ponte entre a reabilitação inicial e o treinamento de força, garantindo a continuidade do cuidado e ampliando o valor da atuação em saúde.

Por fim, não podemos esquecer que a orientação sobre hábitos fora da sala de treino também faz parte dos cuidados. Incentive a alimentação saudável para controle da composição corporal (a redução de 1kg na balança pode representar 4kg a menos para a articulação do joelho!), a redução do comportamento sedentário (alternar posições, alongamentos), a constância nas atividades, e a higiene do sono. Ajude o aluno a desmistificar crenças sobre a doença, explicando que o diagnóstico de imagem nem sempre se correlaciona diretamente com a dor.

Aprofunde seu conhecimento

Esse tema é apenas uma porta de entrada para a imensidão de estratégias que podemos usar no treino seguro de alunos com artrose no joelho. Quanto mais entendemos de biomecânica, fisiologia do exercício e da dor e adaptações específicas, mais preparados ficamos para transformar a vida desses alunos.

Por isso, quero te convidar a buscar sempre mais conhecimento. Se você deseja se aprofundar nesse assunto e em outros relacionados ao tratamento de condições ortopédicas pelo exercício físico, conheça o meu treinamento para prescrever treinos para quem tem artrose no joelho. Ele foi pensado justamente para profissionais que, assim como você, querem oferecer o melhor acompanhamento possível e fazer a diferença na vida dos alunos!